centro de pesquisa em reciclagem e biomateriais do delta do Jacuí

Porto Alegre, Brasil

2022

Na ecologia atual residem devires humanos contrastantes sobre as formas de habitar o planeta. Enquanto a atividade humana altera o período geológico e afasta a Terra do estado de equilíbrio no antropoceno, cabe a ciência delimitar as fronteiras de predefinição biofísica para o desenvolvimento humano. Partindo da ideia do contrato natural e da simbiose a ser restabelecida entre natureza e cidade trata-se aqui de como levar o novo pacto antrópico-natural ao âmbito da arquitetura. A subversão de sentido entre os ideais de planeta como hospedeiro e como parceiro move o discurso rumo a ações urbanas radicais.

No contexto de infraestruturas atreladas ao extrativismo e ao desmantelamento de ecossistemas sensíveis surge o trabalho de indicar as formas de intervir na paisagem, de parasitar infraestruturas propondo uma nova ótica de desenvolvimento econômico dentro de um espaço operacional seguro para a humanidade, e sobretudo de produzir um discurso ecológico coerente entre as espécies nas ilhas do delta do rio Jacuí. O caráter deste trabalho projeta uma verificação da possibilidade de apropriação e adaptação das infraestruturas existentes (Rodovias que cortam o território) embebidas do sentido de parasitismo segundo Serres, “relação de fluxo sem sentido reverso, tendo um hospedeiro como condutor constante” (ou segundo sua descrição mais literal “se alimentar ao lado de”, depois explicada por um sentido de coexistência entre todos os entes que compõe o ecossistema em relativa harmonia), como ruído gerador de uma nova paisagem mais complexa no par dialético cidade/natureza a fim de propor espaços públicos, economia circular ligada a infraestruturas ecológicas e inserir territórios latino-americanos em um contexto de biotecnologia no paradigma do pós-extrativismo.

A regeneração metabólica de ambientes do pós-antropoceno (ZYLINSKA, 2014) propõe perspectivas de adaptar-se a uma protopia do pós-extrativismo. infraestruturas ecológicas multiescalares movidas por um impulso parasitário passam a impor no território forças de profecia autorrealizável (FISHER) rumo a imaginários além do paradigma ambiental do neoliberalismo.

Essa mudança no arquétipo da intervenção em áreas sensíveis abre a possibilidade para estudos mais avançados acerca do que chamamos de fenomenologia do parasitismo. Movida por análise dos movimentos de metabolismo, situacionismo e parasitismo (SERRES), esta pesquisa tem como cerne engendrar a fenomenologia desta forma de pensamento materializando-a em equipamentos públicos.

O ecossistema reimaginado a partir da inserção de peças de mediação ambiental e humana permite a compreensão de uma arquitetura que acomoda em si os elementos para o convívio das espécies. A combinação de infraestruturas defasadas com mobilidade humana sustentavel, indústria de biomateriais e espaços públicos produtivos no futuro gerará um novo vocabulário de respostas formais ao antropoceno.

Anterior
Anterior

Monumento Areguá

Próximo
Próximo

Apartamento 52